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05/03/2021

Há 10 anos falecia Antonio Carlos Gomes da Costa, que coordenou redação do ECA

Há 10 anos falecia Antonio Carlos Gomes da Costa, que coordenou redação do ECA

São Paulo 5/3/2021 – “O homem é uma carta ao seu tempo e Antonio Carlos foi, sem dúvida, uma das melhores cartas que o Brasil recebeu”, comenta Viviane Senna

Viviane Senna, Alfredo Gomes da Costa, Anna Penido, Neylar Vilar e Adenil Vieira comentam vida e obra do educador; Antonio Carlos Gomes da Costa colocou o Brasil na vanguarda de um novo olhar sobre a infância e a juventude

Há 10 anos, o Brasil perdia um dos maiores educadores do campo do desenvolvimento social e da ação educativa. Coordenador da equipe de redação do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, Antonio Carlos Gomes da Costa é considerado um dos principais mestres e pensadores sociais da história recente do país. Vale salientar que o ECA, que em 2020 completou 30 anos, é, até hoje, considerado uma das legislações para infância e juventude mais avançadas do mundo. 

Antonio Carlos faleceu em 04 de março de 2011, em Belo Horizonte. Foi pedagogo, consultor, escritor e se dedicou à causa dos direitos de crianças e adolescentes desde o início da década de 1980. Foi membro do Comitê Internacional dos Direitos Humanos (Genebra) e do Instituto Interamericano da Criança (Montevidéu). Também foi consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e oficial de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).  

Trabalhou, ainda, como diretor da Unidade da Febem Barão de Camargos, em Minas Gerais, e foi Secretário de Educação de Belo Horizonte. Colaborou também na elaboração da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança. Em 1998 ganhou o Prêmio Nacional de Direitos Humanos. Quando faleceu, era diretor presidente da Modus Faciendi, uma consultoria que prestava serviços a diversas instituições do terceiro setor, entre elas a Fundação Telefônica e o Instituto Ayrton Senna.

Para Viviane Senna, psicóloga e presidente do Instituto Ayrton Senna, o educador ressignificou a visão de políticas públicas e de terceiro setor voltadas à infância e juventude, trazendo um novo e mais avançado paradigma. “O homem é uma carta ao seu tempo e Antonio Carlos foi, sem dúvida, uma das melhores cartas que o Brasil recebeu ao fazer de sua vida e de sua obra uma inspiração e um legado de conhecimento extraordinário que frutifica através do tempo e do espaço.”

De fato, Antonio Carlos marcou vidas e mudou o rumo de muitas organizações do terceiro setor. Segundo Adenil Vieira, diretora do Instituto Aliança e coautora do livro “Protagonismo juvenil”, seus ensinamentos continuam presentes como forte influência teórico-metodológica na defesa dos direitos da criança e do adolescente. “Passados 10 anos, o legado de Antonio Carlos Gomes da Costa continua vivo na prática das organizações sociais que trabalham com crianças, adolescentes e jovens. Através do que ele chamava de ‘filhos pedagógicos’, pois não teve filhos biológicos, influenciou toda uma geração de educadores com a sua Pedagogia da Presença e conceitos como protagonismo, projeto de vida e desenvolvimento pessoal e social.”

“Entre muitas das ideias inspiradas por Antonio Carlos está a própria criação do Instituto Aliança com o Adolescente, o qual Adenil faz parte, assim como Neylar Vilar Lins, membro do conselho da entidade. “Antonio ajudou a conceber e orientar o Instituto Aliança por vários anos, como conselheiro e amigo da equipe fundadora. Seus princípios e valores até hoje nos mantém fiéis ao propósito de desenvolver o potencial das juventudes brasileiras”, comenta Neylar.

Anna Penido, especialista em Educação, comenta, também, a importância de Antonio Carlos na revisão de práticas pedagógicas e de ambientes de aprendizagem que criamos para a juventude. Neste contexto, para ela, o educador se destacou por colaborar com a sistematização de conceitos que mudaram a visão da sociedade e transformaram políticas públicas. “Antônio Carlos nos fez perceber e acreditar que jovem não é problema, mas solução, e nos ajudou a desenhar metodologias e programas centrados no empoderamento da juventude como agente de mudanças no âmbito pessoal e social”, afirma.

Teoria e prática

Autor de dezenas de artigos e livros publicados no Brasil e no exterior sobre atendimento, promoção e defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, Antonio Carlos Gomes da Costa influenciou – e influencia ainda hoje – diversas organizações públicas e do terceiro setor com suas reflexões e experiências. Conceitos por ele sistematizados, como o protagonismo juvenil, a pedagogia da presença, e as competências pessoais, sociais, cognitivas e produtivas, seguem contribuindo para mudar o olhar da sociedade a respeito do jovem.

Seu irmão, Alfredo Gomes da Costa, comenta o interesse ímpar de Antonio Carlos por conceber e compartilhar conhecimentos, metodologias e ferramentas educativas, sem vaidades. “O currículo acadêmico dele era ‘só’ graduação em pedagogia, mas ele tinha título de notório saber pela USP, era convidado, também, para ministrar palestras dirigidas a mestres e doutores, sem se importar com questões vinculadas à titulação acadêmica. Ele era, literalmente, um educador da práxis: não abria a mão de pensar a prática e praticar o pensamento”, relembra. 

A vida de educador de Antonio Carlos começou ao lecionar no ensino supletivo e, depois, no ensino regular dos antigos 1º e 2º graus, atuais ensinos Fundamental e Médio. Com o tempo, tornou-se dirigente e técnico de políticas públicas para a infância e juventude, tendo experiência em diferentes órgãos governamentais e não governamentais. 

Para Alfredo, a trajetória do irmão ainda reverbera não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, devido à maneira vanguardista como Antonio Carlos enxergava a juventude. “Ele via o protagonismo juvenil como forma de valorizar o potencial inventivo, criativo e transformador do ser humano, vendo o jovem como parte da solução, e não como um problema.”

Alfredo resgata, ainda, a ênfase que Antonio Carlos dava no cuidado e atenção necessários a duas grandes tarefas existenciais do humano: plasmar a própria identidade e construir um projeto de vida. “Citando Cláudia Jacinto, psicóloga social argentina, Antonio gostava de explicar que, quando o bebê sai da barriga da sua mãe, nasce para a família e o mundo (primeiro nascimento). Quando chega à fase da adolescência, precisa iniciar o processo de autocompreensão e autoaceitação, nascendo para si mesmo (identidade)”, explica.

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