Relacionamentos amorosos com homens em cárcere é tema do espetáculo teatral ‘Cartas da Prisão’, monólogo inspirado em histórias reais
São Paulo, SP 1/4/2021 – “A peça busca relevar os tipos de abusos presentes nas relações e causar reflexão sobre o que nos condiciona a manter relacionamentos abusivos”, Chica Portugal.
Enredo mostra as nuances da história vivida entre “M” e um presidiário que assassinou mais de 40 mulheres. Fragmentos de situações abusivas apresentadas pelo olhar de mulheres com diferentes perfis também são exibidas
De 05 abril a 20 de abril estará em cartaz a peça ‘Cartas da Prisão’, idealizada pela atriz Chica Portugal em parceria com a dramaturga e roteirista Nanna de Castro e direção de Bruno Kott. O espetáculo será exibido às segundas e terças-feiras a partir das 20h, por meio do YouTube (Youtube/ProjetoAMeiaLuz) . O projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc e apresenta através de formato híbrido – entre vídeo documental e teatro – a evolução da história de amor via correspondência entre uma mulher 42 anos e um assassino em série. A leitura das cartas e o enredo da peça mesclam histórias reais e fictícias sobre violência doméstica e relacionamentos abusivos, revelados com intuito de levar o público à reflexão. A peça é conduzida por Rita, uma atriz-performer interpretada por Chica Portugal. Ao final de cada espetáculo o público será convidado para participar de debates junto a especialistas sobre questões abusivas e masculinidade tóxica (via Zoom).
Ao longo da peça, o público acompanhará a evolução do relacionamento de “M” e o desgaste da relação entre Rita e sua mãe, até que as histórias se tornam cada vez mais parecidas. Rita também traz para a cena depoimentos reais de mulheres que viveram experiências amorosas com abusadores, além de materiais diversos sobre o tema. Na colcha de retalhos que vai se formando entre todas as histórias a personagem leva ao entendimento dos possíveis tipos de situações abusivas que podem ser vivenciadas – física, moral, psicológica, sexual ou patrimonial – e como essa realidade é comum na vida de mulheres de diversas classes sociais e raças. Segundo estimativa realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres, de junho de 2019 a junho de 2020 mais de 240 milhões de mulheres e adolescentes de 15 a 49 anos de todo o mundo foram vítimas de violência sexual e/ou física por um parceiro.
“Abracei o desafio deste projeto com a satisfação especial de falar sobre um tema que conheci de perto: o abuso. Muitas mulheres da minha geração sequer sabiam que estavam vivendo agressões psicológicos e, ainda hoje, muitas de nós normatizam relacionamentos abusivos. É comum acharmos que esta história é da outra, e não nossa. Dentre as facetas das relações abusivas, sempre me intrigou as mulheres que se correspondem com criminosos sexuais confessos na prisão. É comum que assassinos recebam centenas de cartas de amor de mulheres que os conhecem apenas pelo noticiário. É como se o abuso fosse não apenas aceito, perdoado, mas acolhido. Não quero e não posso julgar estas mulheres, apenas convidar o público a partir desta situação extrema e refletir sobre nossa convivência com a violência e o desrespeito não apenas no nível pessoal, mas social”, ressalta Nanna de Castro, idealizadora do roteiro.
O ponto de partida do trabalho foi a pesquisa iniciada em 2018 pela atriz Chica Portugal sobre relações afetivas abusivas. O processo seguiu com a criação de um texto pela dramaturga e roteirista Nanna de Castro que rompe propositalmente o limite entre realidade e ficção transitando entre depoimentos verdadeiros e fictícios, entre o noticiário e o poético. Obras como “Mulheres que Amam Demais” (Robin Norwood) e “Loucas de Amor” (Gilmar Mendes) foram usadas como material de apoio para a elaboração do roteiro. Sobre este texto, o diretor Bruno Kott fez sua leitura inspirado na linguagem documental e comenta “A arte antes de tudo, é o exercício de democracia. O teatro sempre me traz oportunidades de aprendizado. Cartas da Prisão é um exemplo disso. Colaborar para que esta história seja contada me faz exercitar o meu ofício, minha escuta, potencializar discursos, e rever o meu papel no mundo.”
A pesquisa de Chica Portugal deu origem “Coletivo À Meia Luz”, projeto que oferece informações para a conscientização a respeito de assuntos ligados a violência doméstica, com ênfase em relacionamentos abusivos. Em 2020, Chica iniciou uma pesquisa sobre Narcisismo Perverso, trata-se da escala de um degrau na complexidade das histórias de abuso nas relações. “Nem todo abusador é um narcisista, mas todo narcisista é um abusador. Em ‘Cartas da Prisão’ buscamos trazer de forma sutil os diversos tipos de abuso presente nas relações e, junto a isso, refletir os paralelos do que nos condiciona a manter esse tipo de relação”, explica Chica Portugal.
Realização: MomBak; Projeto À Meia Luz;
Lei Aldir Blanc através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo; Ministério do Turismo e Secretaria Especial da Cultura
Cartas da Prisão
Datas: De 05 a 20 de abril (segundas e terças-feiras)
Horário: A partir das 20h. Ao final do espetáculo o público será convidado para um debate com especialistas (via Zoom)
Onde assistir: YouTube (Youtube/ProjetoAMeiaLuz)
Website: https://www.instagram.com/cartasdaprisao/