Síndrome do Intestino Irritável afeta duas vezes mais mulheres do que os homens
7/6/2023 – É importante ter uma boa relação médico-paciente e assegurar que, apesar de interferir na qualidade de vida, a doença é uma condição benigna.
A síndrome, que é um distúrbio crônico que afeta o intestino, é considerada uma das doenças funcionais mais comuns do trato gastrointestinal e apresenta predominância no sexo feminino. Alguns estudos apontam que as mudanças hormonais podem ser muito significativas neste contexto e, para muitas mulheres, os sintomas da síndrome se agravam durante a menstruação ou em períodos próximos.
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio crônico que atinge o intestino e provoca dor e distensão abdominal, inchaço, constipação e/ou diarreia recorrente. Esta condição é comum na população, mas acomete duas vezes mais as mulheres do que os homens, afetando negativamente a qualidade de vida do paciente, tendo em vista que os seus sintomas podem persistir por um longo período.
Segundo a Dra. Marcella Salazar Sousa, gastroenterologista e membro da Comissão da Mulher da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), este fator pode estar relacionado a mudanças hormonais: “Alguns estudos mostram que os hormônios ovarianos, como o estrogênio e a progesterona, afetam a motilidade intestinal, deixando-o mais lento, além de interferir na sensibilidade do trato gastrointestinal. Enquanto na população masculina há um predomínio da SII com diarreia, entre as mulheres há mais relatos de sintomas de constipação – redução na frequência das evacuações e fezes mais endurecidas, exceto durante o período menstrual, quando os níveis hormonais caem”, explica a médica.
A gastroenterologista também destaca que existem outros fatores que podem contribuir para a maior prevalência da SII em mulheres, como, por exemplo, a resposta biocomportamental ao estresse, a ansiedade, a depressão e a somatização, além da prevalência de comorbidades associadas à dor crônica, frequentemente associadas à síndrome, como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, dor pélvica crônica e enxaqueca, o que sugere associação com o status hormonal.
Durante o período menstrual e, quando as mulheres estão mais vulneráveis ao estresse, ansiedade e depressão, os sintomas podem ser mais intensos: “Nesse período, quando há uma queda nos níveis hormonais, há também muitos relatos de exacerbação da dor abdominal, barriga inchada e da sensibilidade retal, quando comparado com outras fases do ciclo menstrual. Já o estresse afeta a barreira intestinal e aumenta a permeabilidade intestinal por meio de fatores imunológicos que agravam os sintomas da SII,” esclarece a gastroenterologista.
Outro fator que pode agravar e causar desconforto aos pacientes com SII é a alimentação. O ideal é manter um estilo de vida saudável, o que engloba a prática de atividade física, que, além de trazer vários benefícios para a saúde, ajuda os movimentos intestinais e aumenta a frequência evacuatória, reduzindo, assim, os sintomas relacionados à síndrome. Evitar o consumo excessivo de cafeína, álcool, bebidas gaseificadas, cigarro, alimentos gordurosos, condimentados e fermentados também auxiliam na redução do desconforto abdominal.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da SII é de inclusão e baseado em sintomas, conforme os critérios de Roma IV, que são: o paciente deve apresentar dor abdominal recorrente, ao menos um dia na semana nos últimos três meses, associado a dois ou mais dos seguintes critérios: relação com evacuação, alteração na frequência das evacuações e alterações na forma e/ou consistência das fezes. É importante ressaltar que estes sintomas devem estar presentes nos últimos três meses e terem iniciado, pelo menos, há seis meses. Poucos exames complementares são necessários para exclusão de diagnósticos diferenciais.
Embora a doença não tenha cura, existe tratamento para auxiliar no controle dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes: “A conduta terapêutica depende da intensidade e dos sintomas predominantes (diarreia, constipação, dor abdominal e distensão) e incluem também mudanças no estilo de vida do paciente, além das medicações”, afirma a médica.
Além disso, a gastroenterologista ressalta que a terapia cognitiva comportamental é uma excelente ferramenta para reduzir a ansiedade e o estresse, que são os fatores que também contribuem para a piora dos sintomas relacionados à síndrome.
Este texto não substitui uma consulta médica. Em caso de dúvidas, um gastroenterologista deve ser consultado.
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