Após eleição do PED petistas se desfiliam
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No último domingo, dia 10 de novembro, o candidato derrotado na última eleição para prefeito do município de Itamaraju, Dalvadisio Lima, conseguiu, com uma pitada de imposição, chegar à presidência do Partido dos Trabalhadores em Itamaraju. Para o petista, chegar à presidência do partido era caso de vida ou morte, já que estava em jogo uma possível candidatura a prefeito nas eleições de 2016.
Dalvadisio e seus correligionários sabiam que se a presidência do partido caísse nas mãos de pessoas alinhadas com o maior preceito do PT, o da democracia e respeito à diversidade de opiniões, ele poderia enfrentar dificuldades no processo de escolha do nome do partido para a chapa majoritária nas próximas eleições municipais, afinal, um presidente que joga limpo, que põe as cartas na mesa, que respeita a opinião do outro, mesmo sem concordar com ela, poderia tornar a disputa mais transparente e, isso, colocaria em xeque a candidatura do presidente eleito.
A preocupação do presidente eleito se justifica no achar que as pessoas vão agir da mesma forma como ele tem agido. Seu grupo tem esquecido de que o partido ao qual estão filiados tem nas veias o mesmo sangue derramado por muitos trabalhadores nas batalhas contra a ditadura e toda sorte de opressão imposta por algum poder. O Partido dos Trabalhadores prega a democracia de tal forma que hoje existem dentro do partido várias tendências, com linhas intelectuais diferentes, mas que se respeitam mutuamente. Mas isso, só bem longe dos limites itamarajuenses.
O que tem se observado em Itamaraju, desde a época em que o PT local passou a ser dirigido por pessoas ligadas ao Deputado Valmir Assunção com o apoio dos vereadores Paulo Vitor e Antônio Portugal, é que a coordenação do partido tem deixado de lado o seu maior preceito e tem agido como os coronéis, a quem sempre criticou e combateu. O respeito ao livre pensamento dentro do partido virou falácia, conversa pra boi dormir, “se não falam o que queremos escutar não permitimos que falem”. Essa tem sido a regra da prepotência, arrogância e desrespeito de um PT, no mínimo, diferente.
É a intolerância dos “tolerantes” mostrando mais uma vez suas armas. Os que se dizem tolerantes na verdade só toleram as opiniões que estão de acordo com o discurso único que cada vez mais toma conta do partido em Itamaraju.
O que se esperava do PT é que o PED – Processo de Eleições Diretas, fosse uma festa da democracia, como são as eleições organizadas pela Justiça Eleitoral, onde existem regras, direitos e deveres que valham para todos indiscriminadamente, afinal, para que se criou uma maneira direta de escolha, senão para tornar o processo mais acessível ao filiado. Mas em Itamaraju, o ‘PT é diferente’.
Aqui, o pessoal que colocou Dalvadisio na presidência do Partido, tentou de todas as formas, impedir o registro de qualquer chapa que se opunha ao presidente eleito, “mas que diabos de processo democrático é esse em que se cerceia e tolhe o direito de um militante de se candidatar a presidência do PT”. Em Itamaraju PED também é estorinha, vai ver a sigla significa Plano para Eleger Dalvadisio (PED).
Mesmo diante do indeferimento da candidatura da advogada Izabel Martins pelo diretório local, o diretório estadual do PT, mais coerente e democrático, deferiu o registro da chapa no último mês de outubro, entretanto, a advogada enfrentou mais uma dificuldade, os petistas diferentes daqui se negaram em acatar a determinação da instância superior. A partir daí, ficou mais que evidente a existência de um complô para que apenas um candidato disputasse o PED em Itamaraju. O registro da nova chapa só foi aceito 4 dias antes do dia da eleição, o que inviabilizou a candidatura.
O que há de se destacar é que, mesmo com as desleais e injustas dificuldades impostas pela cúpula do PT de Itamaraju; mesmo com as ofensas, difamação, calúnias e até ameaças de morte feita pelo próprio Dalvadisio contra a Secretária Lucilene; mesmo com a proibição de que os cinco secretários municipais votassem, apesar de estarem na lista de votação e terem pagado a contribuição partidária; mesmo com todas as lideranças mancomunadas em conluio com o intuito de eleger Dalvadisio presidente do partido; mesmo com tudo isso, a candidata Izabel Martins conseguiu obter 262 votos de confiança na eleição majoritária.
Além disso, 456 dos aptos não compareceram e 69 filiados votaram em branco ou nulo. Analisando os números, chegamos à conclusão que 787 filiados, que corresponde à maioria dos 1368 aptos a votar, não votaram em Dalvadisio, que conseguiu se eleger presidente com 581 votos. Mas o presidente eleito, como de praxe, tentou a todo custo valorizar a vitória, dizendo em sua rádio e em seu site que obteve 70% dos votos válidos e que os votos da adversária foram comprados, mais desrespeito para com aqueles que pensavam diferente. A verdade é que Dalvadisio não foi eleito pela imensa maioria dos filiados aptos a votar.
Por outro lado, se forem observados os números da votação nas chapas, a legitimidade da eleição perde ainda mais credibilidade, haja vista que a chapa ‘Reencantando o PT’ obteve 240 votos (35,5%), que, se somados aos 236 nulos ou brancos e as 456 abstenções, chegam ao total de 932 votos que não foram dados à chapa de apoio a Dalvadisio. Tal chapa só obteve 436 votos, apesar do apoio massivo de quatro grupos e lideranças como os vereadores Portugal e Paulo Vitor, CUT, MST e o deputado Valmir Assunção.
Dalvadisio e seus apoiadores tanto fizeram que conseguiram. Mas, ainda não estavam satisfeitos com a vitória, faltava alguma coisa, a cereja do bolo. Foi então que decidiram anular todos os votos obtidos pela chapa concorrente, dando mais uma prova de desrespeito aos próprios companheiros de partido que decidiram se posicionar de uma forma diferente, um tiro de misericórdia na democracia. Mas a anulação dos votos obtidos pela chapa da advogada Izabel Martins tinha uma razão de ser, os votos davam ao grupo que defendia o nome da advogada o direito de ocupar nove cadeiras do diretório municipal, isso iria ser um incômodo para o todo poderoso presidente eleito.
Com tantos desmandos, perseguições e imposições dentro do partido, o grupo que apoiou o nome da advogada Izabel para presidente do PT decidiu que vai sair do partido. A decisão foi tomada em consenso durante uma reunião, e, anunciada numa entrevista concedida na tarde desta terça-feira (12/11) ao programa Tribuna Popular da Rádio 99 FM de Itamaraju. Entre os decididos em deixar o PT, por não concordarem com a maneira arbitrária – intransigente e antidemocrática de agir seus atuais dirigentes, estão pessoas que contribuíram para a implantação do partido em Itamaraju.
Pessoas como a própria Lucilene Curvelo, atual secretária de Finanças do município, que já integrou o diretório estadual do partido; a secretária de Agricultura Solange Chagas, que além de ser uma das fundadoras do PT na região, foi por muito tempo uma militante do MST; e o secretário municipal de Obras, Francesco Scarpelino – ‘Frei Chico’, militante histórico do PT em muitas batalhas em defesa das classes menos favorecidas. Nessa lista ainda constam os nomes do secretário municipal do Desenvolvimento Social – Evando Rodrigues, a secretária de Esporte e Cultura – Dilce Moura, Selmides Pereira – ‘Bida’, Miguel Monteiro, Rutemberg – ‘Grilo’ e muitos outros. O verdadeiro PT vai chorar essas perdas.
Durante a entrevista, os petistas vestidos de preto simbolizando luto em protesto por terem sido impedidos de votar, lamentaram veementemente, mas confirmaram que vão mesmo entregar à coordenação do partido, um pedido de desfiliação coletivo. A candidata Izabel Martins afirmou que Dalvadisio não sabe vencer prévias, por isso precisa se valer da truculência para alcançar a vitória na marra. Ela se disse triste por estar deixando um partido ao qual dedicou vários anos de sua vida.
Quando se lembrou das injustiças sofridas durante os dias que antecederam o PED, a advogada se emocionou e desabafou: “o senhor é um ser ignóbil, asqueroso e sem escrúpulos, não vou admitir que o senhor continue manchando minha biografia como já o fez, eu mereço respeito porque não sou da sua laia”, disparou.
Izabel é respeitada não só entre os petistas, mas em toda comunidade pelo seu caráter ilibado e seriedade em tudo o que faz. A advogada foi diretora fundadora histórica do Sindicato dos Bancários e do Partido dos Trabalhadores, integra o Conselho de Direitos Humanos da OAB – Subseção Itamaraju, foi membro do Conselho das Mulheres na mesma entidade, sempre esteve na luta em defesa dos trabalhadores e da população carente na Defensoria Pública Municipal. Uma mulher de coragem e honestidade.
A secretária da Agricultura do município, Solange Chagas, outra que pretende deixar o partido, também desabafou, “não dá mais pra continuar nesse partido, o PT de Itamaraju não tem mais ideologia política e não respeita mais as opiniões contrárias. Não precisou da ditadura nem da direita, é o grupo que está no partido é que está acabando com o PT em Itamaraju”, disparou.
Parafraseando o revolucionário Ernesto Che Guevara, que certa feita disse “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”, Chagas disse que os verdadeiros petistas estão indignados com as injustiças sofridas, “nossos nomes estavam na lista e não deixaram que a gente votasse, nos tiraram o direito ao voto, atacaram a mim e a companheiros como Frei Chico, entre tantos outros, por isso peço aos meus companheiros de caminhada que façam como eu, peçam a sua desfiliação do PT de Itamaraju”, convidou.
Evando Rodrigues, secretário do Desenvolvimento Social disse que a decisão de sair do PT foi muito pensada, mas já vinha amadurecendo há anos, “ninguém aceita estar em um partido em que você não tem voz, em que você não pode falar, não pode se defender ou defender o seu ponto de vista, não nos deixam falar porque não aceitam ouvir, então porque permanecer, porque continuar acreditando em um ambiente democrático se o que vemos é a imposição de cima pra baixo”, argumenta.
O ex-presidente do PT, Selmides Pereira – ‘Bida’, foi categórico ao afirmar que a história do Partido dos Trabalhadores estava sendo jogada fora a partir do momento em que Dalvadisio se filiou ao PT, “os interesses pessoais desse homem estão acima dos interesses do partido”, disse, e continuou, “eu tenho um companheiro que costuma falar das humilhações sofridas durante as primeiras ocupações do MST, quando o Capitão Berlink colocava os companheiros de frente para o sol, de castigo, mas eu digo que a humilhação que estamos sentindo hoje é maior que aquela, porque do Capitão, poderia se esperar qualquer coisa, mas estamos sendo apunhalados pelos próprios companheiros, estão matando nossos sonhos”, desabafou.
As indignações foram colocadas pra fora também pela secretária de Esporte e Cultura do município – Dilce Moura e pelo petista Rutemberg – ‘Grillo’. Este último, que tem uma história no PT e no MST, fez questão de protestar contra o que chamou de esquema exagerado de segurança, com homens que vieram de outros municípios e ficaram a serviço do presidente eleito, “quando terminou a votação eles quiseram deixar a gente trancado no colégio com cerca de trinta homens que a gente sabia que estava sob as ordens de Dalvadisio, tivemos que solicitar a presença da polícia para garantir nossa integridade física”, conta.
Mas, em todo processo, ninguém foi mais perseguida, caluniada, injustiçada e aviltada que a secretária Lucilene. Aliás, essa tem sido a postura do grupo do presidente eleito contra Lucilene, porque eles não aceitam o fato de vê-la no governo Manoel Pedro como uma de suas principais colaboradoras. Lucilene tem sido vítima de ataques sucessivos a sua honra, em alguns casos as acusações sem provas dirigidas a ela chegam a ser desumanas.
Não levam em consideração os anos de contribuição da secretária ao Partido dos Trabalhadores, nem o histórico de serviços prestados a sociedade como fundadora histórica do PT chegando a ocupar cadeiras nos diretórios municipal e estadual; como diretora do Sindicato dos Trabalhadores da EMBASA (SINDAE), diretora da CDL, ex-presidente e fundadora do Sindicato do Comércio, diretora da CUT entre outras representações.
Para Lucilene Curvelo, todos os que estiveram com Dalvadisio Lima têm sua parcela de responsabilidade neste processo truculento, “quem perdeu com tudo isso foi o PT, nosso grupo fez a campanha com ética e moralidade, respeitando os acordos, inclusive fazendo campanha para o candidato a presidente estadual Everaldo Anunciação”, enfatiza.
Os petistas insatisfeitos com os rumos que tem tomado o partido no município, agora devem se reunir para decidir de que forma vão entregar ao diretório municipal seus pedidos de desfiliação. Agora, com a saída do PT daqueles que acreditam no atual governo municipal e colaboram com a administração, as coisas tendem a ficar mais claras e francas. Antes o atual gestor evitava confrontar o partido, mesmo nos momentos em que foi atacado, por ali estar pessoas do seu círculo de amizade. Agora, a coisa tende a ser diferente.
Todas as lideranças reafirmaram que respeitam o projeto e a bandeira do partido que é importante para o Brasil e para Bahia, respeita os governos da Presidenta Dilma Rousseff e do Governador Jacques Wagner, além de muitos dirigentes, fundadores do partido a nível estadual e federal, mas que em Itamaraju todos que estiveram com Dalvadisio Lima são cumplices neste processo truculento, no qual, o único prejudicado foi o PT.
Por Nilson Chaves