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08/07/2022

Arie Halpern: por que foguetes ainda são lançados?

Arie Halpern: por que foguetes ainda são lançados?

No dia 21 de junho, a Coreia do Sul lançou o primeiro foguete espacial integralmente produzido no país. Chamado de Nuri, o equipamento pode transportar 1,3 tonelada de carga até a faixa entre 600 e 800 quilômetros de altitude, o que o torna capaz de lançar satélites.

Para chegar a esse ponto, o programa espacial sul-coreano passou – a exemplo de outros – pelo dissabor do fracasso. No ano passado, o primeiro foguete Nuri não conseguiu atingir a órbita da Terra, deixando frustrados o time de cientistas e engenheiros e o governo local, que investiu o equivalente a R$ 9 bilhões, em valores da época.

A persistência foi recompensada. Agora, a Coréia do Sul integra o seleto grupo de sete países que dominam a tecnologia para lançamento de satélites, ao lado de China, Estados Unidos, França, Índia, Japão e Rússia.

Mas por que Seul não desistiu? Por que cada vez mais países criam e mantêm programas espaciais próprios? Lançar foguetes, fabricar e operar satélites em órbita faz sentido? Por que foguetes ainda são lançados?

Há uma série de respostas e justificativas, mas a síntese é: para desenvolver tecnologia e talentos nacionais capazes de atender demandas do dia a dia e – não seja ingênuos – para marcar posição em disputa por influência e hegemonia globais. Um olhar para a história do Brasil traz evidências que corroboram essa resposta.

No fim da década de 1960, nos cafezais do estado da Bahia, foi encontrado o primeiro foco da praga chamada de “ferrugem”, que se espalhou e derrubou a produtividade dessa lavoura em cerca de 30%. Em 1970, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deu início à Missão Ferrugem, a primeira experiência em sensoriamento remoto cujo objetivo era detectar a praga nos cafezais na região de Caratinga (MG). Porém, para isso e diversas outras necessidades, como mapear o desmatamento da Amazônia, havia dependência das informações dos satélites LANDSAT, dos Estados Unidos.

Nos dias de hoje, o Brasil tem três satélites próprios em órbita para realizar tarefas de sensoriamento remoto: o CBERS-4 e o CBERS-04A, desenvolvidos em parceria com a China, e o Amazônia-1, projetado e construído por uma equipe brasileira. Esse movimento de nacionalização, por meio do INPE e da Agência Espacial Brasileira (AEB), gerou encomendas de produtos tecnológicos oriundos da indústria nacional.

Esse tipo de estruturação de programas espaciais, ao longo do tempo, impulsionou economias e proporcionou a criação de produtos que estão amplamente disseminados mundo afora. Ou seja, parte da riqueza gerada em alguns países tem origem em programas espaciais.

Há inúmeros exemplos. A criação das câmeras digitais em smartphone remonta a desenvolvimentos da NASA para diminuir o peso e ocupar menos espaço nos foguetes. Ainda no campo audiovisual, também partiu da Agência Espacial norte-americana a iniciativa mais bem sucedida para comprimir arquivos de vídeo, para facilitar a transmissão de dados pelo espaço, dando origem ao MJPEG e outros formatos.

Cada vez mais países se interessam pelo desenvolvimento de programas espaciais, em alguns casos em bloco, como a Agência Espacial Europeia. E cada vez mais tecnologias disruptivas originadas por meio desses esforços chegarão ao dia a dia.