CFO pretende habilitar dentistas a realizarem cirurgias faciais

Recentemente, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) anunciou a proposta de habilitar dentistas a realizarem cirurgias plásticas no rosto. A decisão tem gerado grande preocupação entre a comunidade médica e a população, especialmente devido ao risco de pacientes serem atendidos por profissionais sem a formação necessária para procedimentos tão complexos. A medida permitiria que dentistas, que possuem graduação de cinco anos focada em dentes e anatomia bucal, realizassem cirurgias plásticas faciais após uma breve especialização. Em contrapartida, para se tornar cirurgião plástico, um médico precisa de, no mínimo, 12 anos de formação, sendo seis anos de medicina, três anos de residência em cirurgia geral e três anos em cirurgia plástica.
O cirurgião plástico especializado em cirurgias faciais, Dr. Tristão Maurício, experiente em cirurgias complexas, alerta para os riscos da proposta. “Cirurgia plástica envolve riscos, por isso é uma especialidade médica séria, uma das mais antigas, aliás. Pacientes entram pela porta bem e precisam sair melhor ainda. É uma ciência complexa, que envolve conhecimento médico, clínico, cirúrgico e a associação disso tudo com a reconstrução e a estética. Para se realizar uma cirurgia plástica, é preciso ser médico cirurgião plástico. Parece óbvio, mas não tem sido”.
Dr. Tristão reforça que existem especialidades médicas cirúrgicas dedicadas a todas as partes do corpo, mas isso não significa que outros profissionais, por conhecerem a anatomia da região, estejam aptos a realizar procedimentos plásticos.
“Isso é, sim, uma invasão. É desconsiderar a necessidade de formação de uma das mais longas especializações médicas. Um desrespeito à ciência da cirurgia plástica. Parece que os dentes saíram da boca. Dirigir uma carreta nas estradas brasileiras me parece mais complexo que pilotar um jato por piloto automático, mas você não entraria em um avião pilotado por um motorista de caminhão”, compara o especialista.
A conduta do CFO, segundo o Dr. Tristão, coloca em risco a saúde da população.
“Para a população, cirurgia plástica é com cirurgião plástico. Isso tem de ser óbvio. Se o objetivo é oferecer o melhor tratamento, todos sabem o caminho a percorrer. Mas, se o objetivo for outro, dinheiro, os atalhos se tornam uma opção”.
Marina Figueiredo, empresária e jornalista, fez uma rinoplastia com um dentista, em 2020 – o que trouxe à paciente inúmeros problemas, como deformação do nariz, perfuração da cartilagem e insuficiência respiratória. O procedimento foi vendido pela clínica como uma rinomodelação. Contudo, Marina só soube que tinha feito uma rinoplastia numa cadeira odontológica, quando buscou médicos para tentar resolver o problema. Após se consultar com um total de 11 médicos, ela constatou que era preciso operar o nariz e reconstruí-lo. “Vivi um pesadelo que parecia não ter fim. Fiquei deformada e sem conseguir respirar. Graças a Deus, consegui reestabelecer as principais funções do meu nariz, numa cirurgia plástica com um médico, mas ainda tenho sequelas”, conta.
Dr. Tristão Maurício (CRM-DF 24573 | RQE 22364) é cirurgião plástico especializado em cirurgias faciais. É autor de dois livros e diversos artigos científicos.