Inicio > Notícias Corporativas > Dia do Livro: o TikTok está mudando a leitura de jovens    
24/04/2025

Dia do Livro: o TikTok está mudando a leitura de jovens

Dia do Livro: o TikTok está mudando a leitura de jovens

Por mais que os livros impressos já tenham sido considerados “coisa do passado” em tempos de telas e redes sociais, a Geração Z parece estar provando o contrário. Movimentos como o BookTok — comunidade de leitores no TikTok — vêm transformando o consumo literário entre adolescentes e jovens adultos, ao ponto de impulsionar fenômenos editoriais e lotar eventos literários pelo país. Mas será que esse novo tipo de engajamento nascido no digital é suficiente para formar leitores críticos e apaixonados?

A resposta, como aponta a Coordenadora de Inovações Pedagógicas do Elite Rede de Ensino, Luiza Machado, é complexa. Para ela, o TikTok tem cumprido um papel de vitrine literária poderosa, aproximando os estudantes dos livros por caminhos antes improváveis. “O que mais chama minha atenção é a forma como os alunos chegam aos livros: muitas vezes por meio de vídeos curtos, resenhas em redes sociais ou memes literários. A leitura passou a fazer parte da conversa cotidiana deles, o que antes era mais raro”, observa.

O fenômeno é confirmado por dados recentes: segundo o diretor comercial e de marketing da Rocco, Bruno Zolotar, o boom do TikTok, a partir de 2019, fez com que novas gerações descobrissem por conta própria e indicassem livros mais antigos, colocando nas listas títulos lançados em outros anos. A Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2023, também registrou um público jovem recorde, ainda que a maioria das vendas tenha se concentrado em best-sellers recomendados por influenciadores.

Entre os populares da vez, estão títulos como “É Assim que Acaba”, de Colleen Hoover, e “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, de Taylor Jenkins Reid. “Já vi alunos chegarem com esses livros nas mãos, querendo conversar sobre eles — o que é um ótimo ponto de partida para propor diálogos com outras obras e gêneros”, conta a educadora. Mangás também têm ganhado espaço entre os mais jovens do Ensino Fundamental, embalados pelo universo dos animes e da cultura otaku.

Apesar do entusiasmo inicial, a especialista destaca que o maior desafio está em fazer com que esse contato não se limite à superfície. “É comum que muitos alunos façam leituras rápidas, do tipo skimming ou scanning, focadas em captar apenas o essencial. Essas estratégias funcionam bem para uma prova ou para estudar outro idioma, mas não para desenvolver uma leitura analítica e reflexiva”, pondera.

Segundo a Pesquisa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), divulgada em 2022, mais da metade dos jovens brasileiros de 15 anos não atinge o nível básico de leitura. Ou seja, embora os jovens leiam mais do que nunca, ainda que em formatos diversos, isso não garante compreensão profunda nem pensamento crítico.

Diante desse cenário, o papel da escola e da família se torna ainda mais crucial. “A presença da família como mediadora afetiva da leitura é insubstituível. Crianças que crescem ouvindo histórias e vendo os adultos lerem tendem a se engajar mais com os livros. E a escola precisa dar continuidade a isso, com projetos de mediação leitora, rodas de conversa e atividades que valorizem tanto a leitura obrigatória quanto a espontânea”, afirma.

A integração entre o universo digital e as práticas pedagógicas também pode ser uma aliada poderosa. O professor de Literatura do Elite, Diego Moreira, compartilha que costuma propor atividades como trailers literários, resenhas em vídeo ou criação de perfis de personagens com uso de inteligência artificial. “Essas práticas conectam o conteúdo ao cotidiano digital dos alunos, mas a escola precisa ensinar a navegar, interpretar e criar no meio digital, sem abandonar o rigor literário”, compartilhou.

Mesmo com o uso do celular restrito em sala de aula após adoção da Lei Federal nº 15.100/2025, o ambiente escolar continua buscando maneiras de aproveitar o interesse digital dos jovens. “O celular pode ser um aliado se usado com intencionalidade pedagógica. Mas, muitas vezes, é preciso priorizar o foco e a socialização”, explica.

Quando perguntada sobre o futuro da leitura entre os jovens, a educadora é otimista, mas pondera: “Eles leem de forma diferente, sim, mas isso não significa que compreendam mais. A escola deve atuar como ponte entre o gosto imediato e o repertório amplo, oferecendo experiências de leitura que emocionam, provocam e transformam. Cabe a nós, em parceria com as famílias, aproveitar esse novo ponto de partida para formar leitores para a vida”.

Em tempos em que um vídeo de 15 segundos pode despertar a curiosidade por um clássico da literatura, como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, que, após o vídeo viral da influenciadora americana Courtney Henning Novak, no ano passado, alcançou o topo da lista de mais vendidos da Amazon dos Estados Unidos, na categoria “Literatura Latino-Americana e Caribenha”, além do topo da lista dos livros digitais mais vendidos na mesma categoria.​

O desafio está em transformar esse clique em conexão, e essa conexão em hábito. “Já tivemos uma aluna que viu uma resenha emocionada de Dom Casmurro no TikTok e decidiu ler o livro para entender se ‘Capitu traiu ou não’. Ela trouxe debates riquíssimos para a sala. Isso mostra que o digital pode, sim, ser um portal para a paixão pelos livros, desde que haja escuta, mediação e propósito”, completou Luiza.