Nova NR-1 expõe o peso do ambiente de trabalho no adoecimento mental

Curitiba 11/6/2025 –
Norma atualizada inclui riscos psicossociais entre os fatores ocupacionais. Empresas terão até 2026 para se adequar
Metas inalcançáveis, assédio velado, ausência de escuta e lideranças abusivas são alguns dos fatores que silenciosamente moldam ambientes tóxicos — e agora ganham nome e reconhecimento oficial como riscos ocupacionais. A nova NR-1, atualizada pela Portaria MTE 1.419/2024, exige que as empresas identifiquem, avaliem e controlem os chamados riscos psicossociais. É uma virada nas relações de trabalho e no enfrentamento do adoecimento mental no ambiente corporativo.
Inicialmente prevista para entrar em vigor em maio de 2025, a obrigatoriedade da nova versão foi prorrogada pelo Ministério do Trabalho e Emprego para 26 de maio de 2026. A ampliação do prazo dá às empresas mais tempo para se adaptarem às novas exigências, que incluem a avaliação de fatores como estresse, sobrecarga, assédio moral e falta de reconhecimento.
Responsabilidade cotidiana
Para o especialista em cultura organizacional Adeildo Nascimento (DHEO Consultoria), a norma apenas formaliza o que a realidade nas empresas já denunciava: “Não adianta discursar sobre saúde mental e manter líderes que humilham ou metas que adoecem. O problema não é o burnout do colaborador, é o modo como o trabalho é estruturado”.
A exigência vai além da documentação: impõe mudanças profundas, do modelo de gestão à comunicação interna. Empresas que mantêm práticas hierárquicas rígidas, falta de autonomia e cobranças desumanizadas correm o risco de transformar sua cultura em um passivo legal, ético e financeiro.
A norma não exige psicólogos ou campanhas pontuais, mas responsabilidade cotidiana. “Risco psicossocial não é falta de resiliência, é excesso de incoerência”, resume Adeildo. Mais do que uma obrigação legal, a norma transforma a saúde emocional dos trabalhadores em um indicador estratégico. “Os talentos mais disputados do mercado evitam ambientes incoerentes, onde o discurso não se reflete na prática. Os cérebros mais brilhantes não querem só metas; querem propósito, impacto e respeito”, afirma o consultor.
Diferencial competitivo
Com a entrada em vigor da nova NR-1 em 2026, os programas de gerenciamento de riscos das empresas deverão incluir fatores como metas inalcançáveis, ausência de autonomia, centralização excessiva do poder (frequente em empresas familiares) e falta de reconhecimento. Esses elementos, se não controlados, transformam o ambiente de trabalho em um terreno fértil para o adoecimento psicológico.
“A cultura organizacional pode ser a maior proteção da sua empresa. Quando ela é tóxica, os prejuízos não são apenas humanos — são éticos, financeiros e de reputação”, alerta Adeildo. Para ele, líderes empresariais precisam parar de tratar saúde mental como uma campanha de Setembro Amarelo. “Um ambiente saudável precisa ser parte da cultura, não um evento.”
“A NR-1 pode ou não ser um divisor de águas, mas ambientes psicologicamente seguros sempre serão um diferencial competitivo. A transformação precisa vir de dentro. Sejam protagonistas da criação de culturas que desenvolvem o melhor potencial do ser humano”, conclui o especialista.
Vídeo sobre o tema, com Adeildo Nascimento:
https://youtu.be/Owb0mjUwz5E?si=K0sB2abA0pH5gCL1
Foto: Freepik
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